sexta-feira, 15 de julho de 2011

Conversa com uma flor

Estava hoje a caminhar despreocupada pela relva, com o sol de fim de tarde a bater-me nos sapatos, quando passo por uma flor branca com coração amarelo, junto a outras flores, mas destacadamente mais vaidosa e altiva que as suas vizinhas.

E digo aos meus botões: "Ainda bem que não sou flor. É muito melhor ser pessoa. Coitada da flor, que vida efémera e sem objectivo."
Pensando eu que a flor não me tinha ouvido, porque afinal as flores não tem ouvidos - coitadas.
Mas esta flor, vendo o seu orgulho de flor ferido, vira-se para mim e diz-me com a sua voz aguda e suave de flor, com um toque de arrogância e charme:
"Achas que sim? Eu sou flor e apenas sou, sem esforço nem pretenciosidade. O sol oferece-se a mim todo o dia e à noite deleito-me no manto precioso das estrelas. A terra alimenta-me sem qualquer cobrança.
Estou sempre aqui, sim - mas precisarei de mais alguma coisa? Se tivesse a escolha de andar ou ficar, escolheria ficar, pois nada existe de melhor que eu já não tenha aqui.
Achas-te muito importante porque corres, lutas, conquistas e até porque, como és pessoa, consegues ter tais pensamentos sobre uma flor. Eu não tenho pensamentos, mas sou parte da consciência do universo tal como tu.
Serei sempre bonita enquanto viver e quando deixar de ser bonita já não existirei. E mesmo com a minha morte tenho o poder de criar um fruto que está na origem de uma árvore tão grande e imponente - tão mais importante do que tu para a vida na Terra.
Eu sou flor, e tu és pessoa. Sim: sou flor."

Posto isto, nada mais me restou senão encolher os ombros e dizer "pois é..." com alguma melancolia e continuar seguindo até casa, onde iria iniciar a minha maratona doméstica habitual: "que sorte tem a flor".
E ela sorriu, levantando a sua cabeça de flor um pouco mais para o sol.


15.07.2011
17:40

* história verídica

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