sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Nota de suicídio (falhada)

Gostava de ser uma árvore. Ou um lince. Ou simplesmente uma alma a flutuar no espaço. Entre as estrelas.
Não sentir dor, não sentir fome, não sentir paixão, não sentir vontade, não sentir medo, não sentir expectativa, não sentir.

Apenas Ser. Ser. Existir. Ouvir o eterno eco do Nada. De Tudo. De Deus. Do Espaço. Da Natureza. Do Infinito. De tudo o que é, foi e sempre será. De tudo o que É.

Porque apenas existe o que É. O que é Agora. O Agora é eterno. Se conseguirmos ser o agora, conseguimos ouvir o Infinito - Deus - a Alma do Mundo. Aquilo que todos somos.

Isso é o que eu gostava de Ser. Já o sou, como todas as coisas o são, mas não o Sei. Ou sei, mas não o sinto - não me sinto.

Sinto-me apenas demasiado cheia. Gostava de ser vazia. Gostava de Não Ser nada. Para poder ser apenas o Todo. Para conseguir ouvir o eco do Universo.

Mas não consigo. Há muito ruído. Muito conteúdo. Muito recheio. Que a forma se esbate. A forma, a coisa mais pura de nós, de mim, deixa de Ser. Passa a ser apenas um instrumento do mundo. Um utensílio dos homens, das coisas mentais e quotidianas.

Quero voltar à alma do mundo. Ao coração do universo. Quero ser só uma luz.

Sem nenhuma pretensão, objectivo ou afazer.



Mas quando se embarca na aventura da vida, não há volta atrás.

Porque haverá sempre um antes e um depois. Como há a.C. e d.C., mesmo para um homem tão divino como ele.

Uma pessoa, depois de nascer, não pode deixar de existir. Apenas pode morrer. O que é tão ou mais doloroso que viver.

E doloroso independentemente da alegria, felicidade, tristeza ou miséria que a vida de alguém tenha.

O único caminho que resta é Aceitar. Render-mo-nos à vida. Fazer paz connosco. Perdoar o mundo. Amar o que nos rodeia. E sentir o amor que irradia das coisas simples que ainda são verdadeiramente autênticas.

E, ocasionalmente, sentir uns flashes de lucidez. Ver a Verdade. Ouvir a Consciência de tudo. Ser livre. Livre de alma.

Simplesmente Ser.





18.01.2010 

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