
Deus te livre de dizeres que acreditas em Deus em público, a criaturas mundanas exteriores numa conversa casual! Uma coisa é acreditares em privado, à noite com os teus botões ou em momentos de desespero que te levem à loucura de conceber tal fantasia. Outra coisa é escarrapachares grotescamente numa tertúlia semi-alcoolizada que acreditar em Deus é para ti tão natural como respirar e tão bom que queres acreditar insaciavelmente todos os dias e todas as noites, sobretudo aos fins de semana, feriados e férias - que é quando estás mais disponível e aberto para acreditar [nota irónica de analogia com o sexo].
Antigamente, se um comum mortal verbalizasse ao seu círculo social que gostava de sexo (tal como qualquer ser humano biologicamente saudável e funcional pode e deve gostar) seria prontamente cruxificado e colocado num frasco para ser analisado em laboratório, não só pelo facto em si, mas por ter tido o descaramento de o admitir. Actualmente, ser ateu ou agnóstico é considerado um sinal de afirmação cool e até de superioridade intelectual típica de quem não vai carneirada (se bem que, tendo em conta a inversão de tabus aqui exposta, actualmente ir na carneirada é precisamente ser ateu ou agnóstico), mas se tiveres a lata de dizeres que acreditas mesmo em Deus - assim, de repente, à frente de toda a gente, em plena luz do dia e perante as câmaras e olhares curiosos - és imediatamente submetido a um interrogatório extensivo sobre todos os "comos" e porquês" e, na melhor das hipóteses, posteriormente catalogado com uma etiqueta brilhante a dizer "diferente", "antiquado" ou "inocente" (isto se o teu interlocutor for condescendente e achar que o teu caso não tem cura, caso contrário, prepara-te para uma tentativa de evangelização laicista).
Deus te livre de dizeres que acreditas em Deus sem tabus! Uma coisa é dizeres que és uma "pessoa ligeiramente espiritual", dizeres que és um "crente não praticante" (o que por si só é uma antítese bastante paradoxal, pois independentemente de participares ou não nas actividades da tua religião, praticar a tua crença consiste simplesmente em vivê-la, nem que seja no teu interior - e se não a vives não acreditas: pseudo-acreditas, ou acreditas em potencial, mas não de facto), ou dizeres que és uma pessoa que acredita numa "força-superior" ou numa "energia-da-natureza que-une-todos-os-seres-pelo-amor". Outra coisa é deixares as metáforas e eufemismos de lado e chamares a essa força D-E-U-S com todas as letras, sem um pingo de vergonha na cara nem o recatamento de modéstia espiritual que requer semelhante afirmação aberrativa passível de ofender a sensibilidade rude dos teus próximos.
Chegamos ao dia em que o kama sutra é biblificado, o gemido é venerado e o prazer é louvado. Mas a fé é sussurrada, a oração é censurada e a crença é recalcada.
Neste belo dia a que chegamos, se disseres publicamente que acreditas em Deus vais ter que te confessar e redimir desse pecado até te reconverteres à laicidade ou, no máximo, à dúvida metódica - ouviste, ó ímpio?
09.02.2012
Concordo plenamente com tudo k dizes, o machismo profano dos homens e a irreverência das mulheres aliada à sua emancipação, deita por terra valores que até então seriam imaculados… Mas deixa-me dizer-te k o televisor é a cereja no topo do bolo :) simplesmente genial…
ResponderEliminarObrigada pelo feedback :) o televisor foi uma imagem que montei toscamente com a cruz e a bolinha vermelha, já que não encontrei nada do genéro do sr. google.
ResponderEliminarhoje em dia até à mesa de uma esplanada se fala de sexo, é até bom que não tenhamos complexos em falar sobre esse assunto, mas nem sempre fica bem. porque dantes o sexo era algo aliado ao amor e agora é feito por fazer.
ResponderEliminarnada contra o sexo por amor, por prazer ou pelos dois. apenas que não se troquem uns tabus por outros, caso contrário seremos sempre uma sociedade reprimida.
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