
Transcrito de um antigo diário, escrito em 04.06.2002. As minhas desculpas pela intragabilidade deste texto, ainda não sabia escrever de forma simples.
A beleza das papoilas está na reminiscência do valor que elas simbolizam na mente criativa de quem as contempla, magicando no espírito algo que transcende a mera absorção das características perpecionadas sensorialmente, patentes na fisionomia da papoila.
A sugestão mística e natural deste elemento da criação espontânea floresce, porque a sua aparente eminência de desintegração, devido à supostamente inimiga força eólica, é mero erro de indução momentânea. Pois, é precisamente essa capacidade de aquisição de uma forma elementar, em sintonia com a energia controversa que a atinge (que são as pétalas amarfanhadas e cetinais que se fundem com o vento), que lhe permite conviver irreceosamente e numa tagarelice incessante figurada no cambalear do trémulo corpo que a sustenta - sempre ao sabor do seu amigo e companheiro de jornada de vida: o vento.
Além disso, o poder da sua resistência reside na sua sensibilidade, pois é o facto da sua incapacidade em perdurar com vida para além do local onde nasce e vive que a torna inacessível aos comerciantes de flores (se a colherem vê-la-ão desfalecer em pouco tempo). Por isso, a papoila conservará sempre aquela pureza selvagem original que todos os seres tiveram o privilégio de possuir no recém-nascimento da sua espécie.
Outra curiosidade é que as papoilas nunca se sentirão solitárias, pois as suas sementes têm a leveza para se pulverizarem trazidas na mão do vento em conjuntos que se completam.
Finalmente, é um ser que confere o privilégio de ser apreciado somente aos espíritos atentos e sensíveis à beleza do natural espontâneo no seu estado mais primitivo, pois não capricha nem inquisiciona quês em relação ao lugar onde desabrochará procurando requintes desnecessários e camufladores do que é realmente essencial - a papoila pode existir num campo transmontano, à beira das dunas de uma praia, ao lado de um terreno de construção civil ainda pouco "civil-izado", ou num monte de terra esquecido na berma de uma estrada. A sua simplicidade não advoga em nada contra a sua beleza, pelo contrário: a ausência de pretenciosidade ostentativa doa-lhe mais intensamente aquele sentimento de serena despertina perante a vida, em que o único interesse vital é absorver as sensações que a conversa com o vento e o convívio em latente sinfonia com as suas irmãs lhe proporcionam.
Portanto, a simples dádiva da vida é encarada como o único bem a assegurar: para ela, viver é o objectivo da vida.
Não sei se sou papoila - em alguns traços, espero sinceramente ser - , mas admiro-as muito, em todos os seus púrpuros aspectos.
Nota de rodapé: já tinha pensado este comentário sobre as papoilas há um mês, no caminho para casa ao observar as papoilas sanguíneas no terreno abandonado por que passei; só o escrevi agora porque só agora tive tempo e porque só agora cheguei à conclusão que escrever sobre papoilas não é ridículo.
Sem comentários:
Enviar um comentário