sábado, 3 de setembro de 2011

Há uma parte de mim

Há uma parte de mim
que está sempre disposta a partir.
É uma parte que não tem medo de não sentir, não desejar, não ter e nada ser.
Essa parte de mim é eterna e impenetrável
como um diamante.

Há uma parte de mim
indomável.
Que nunca será tua, que é apenas minha e do universo.
É a parte que me liga como um fio invisível às estrelas
como se fossem irmãs, como se eu viesse delas.
Essa parte não é de ninguém, é apenas de Deus
e do infinito.

Há uma parte de mim
que só a mim pertence
É uma parte etérea, selvagem e pura.
Que não tem nada, nem ninguém,
nenhum apego, nenhuma posse, nenhuma saudade de nada deste mundo.
Essa parte não tem medo de a qualquer momento partir
de ti, do mundo, da vida, da beleza dos seres.
Porque ela sabe que tudo é, tudo foi e tudo sempre será.

Há uma parte de mim
que não precisa de rimar.
É uma parte que não sente necessidade alguma da perfeição
que é livre, aleatória e magnética.

Essa parte é a força pura do amor em bruto
E a todo o momento busca a verdade
sem receio de descobrir algo feio, desadequado ou triste
Porque sabe que essa verdade liberta
e é unica coisa que existe
desde o princípio e do fim
dessa ilusão chamada tempo.


14.07.2011

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Quando eu for Terra...

Um dia hei-de ser terra, e os bichos hão-de comer a minha carne, que será apenas matéria dissolvida na natureza. O meu corpo será como as raízes que alimentam as árvores, e cada insecto e larva responsável pela transformação da vida irá absorver um pouco do meu "Não Ser".
E seja esta projecção grotesca ou não, o certo é que não me repugna - deveria? Ao visualizar essa certeza incontornável encontro nela um efeito de paz causado pela aceitação do fim inescapável. E que não é "fim" em si mesmo, mas uma parte do ciclo da natureza, parte na qual participamos insconscientemente.

Nessa altura, quando o meu corpo se fundir com o resto da Terra, será que existirá uma réstia de mim que vai continuar a flutuar pelo universo? Que se elevará do meu corpo, então alimento da borbulhante vida subterrânea, e se integrará com o resto da luz do universo? Essa réstia de mim chamada alma, que foi criada no "início dos tempos" a partir de um átomo de hidrogénio - como todas as outras coisas que existem - um átomo que sucessivamente se foi transformando noutros mais complexos, concretizando todo o tipo de matéria e não matéria, existente e em potencial.

E será que essa réstia de mim, ao se fundir com o Todo universal, se desintegra esfumando-se nesse todo e desaparecendo assim na sua identidade singular que um dia existiu dentro de um corpo chamado meu?
Ou será que, apesar de se submergir no Espaço, esse pedacinho de universo chamado "Eu" continua íntegro, como que aglomerado em torno de um núcleo identitário que um dia foi conhecido por "Eu"?
Quero profundamente acreditar na segunda hipótese. Pois quero que seja possível a qualquer momento apelar e aceder a esse bocadinho de "Ti" que agora está integrado novamente no universo, como um dia também estarei. Pois essa réstia de ti, que é agora Luz, me ilumina sempre que para ela olho, encontrando-a dentro da minha própria luz, que contenho ainda dentro do meu corpo.

Eu bem sei que somos todos Um, e que a aparente sensação de separação que existe entre os corpos vivos é ilusória. Esta ilusão serve para que, através da sensação de "falta" de união, sintamos a necessidade de união, e assim vivamos em busca do Amor, matéria da qual a nossa essência é feita e que por isso nos é tão familiar e desesperadamente preciosa. Da mesma forma que o ouro mais brilha quando está sobre o contraste do azul, também nós mais sentimos o desejo de Amor nestas vidas na terra com o corpo nos dando a sensação de que estamos separados uns dos outros, de que o Amor está fora de nós. Quando na verdade não está, pois nós somos Amor, assim como Deus o é, e Tudo o é.

Eu bem sei...
Mas como quem escreve estas linhas e sente estas verdades é uma pessoa dentro de um corpo que vive através dos seus sentidos, é inescapável o desejo de "Te" sentir através da vida deste corpo, corpo onde habita o pedaço de universo que também sou.
Eu sei que a alma é eterna, que não existe fim para o Ser. Acredito até que este Ser se mantém como "Tu" individual mesmo que em imersão com o resto do Todo. E acredito que posso a qualquer momento alcançar-te e sentir esse flash de Amor puro que agora és.
Mas perdoa-me a minha fraqueza de humana com o síndrome da separação, pois é falta que eu sinto de "Ti", e o meu maior desejo insatisfeito ("desejo" - outra limitação humana fruto da ilusão do não ter) é não poder nesta dimensão de tempo sentir-te crua e linearmente através das células deste corpo, que um dia há-de ser terra para que também eu me funda com a luz...e contigo.

02.09.2011
03:29

Nota de suicídio (falhada)

Gostava de ser uma árvore. Ou um lince. Ou simplesmente uma alma a flutuar no espaço. Entre as estrelas.
Não sentir dor, não sentir fome, não sentir paixão, não sentir vontade, não sentir medo, não sentir expectativa, não sentir.

Apenas Ser. Ser. Existir. Ouvir o eterno eco do Nada. De Tudo. De Deus. Do Espaço. Da Natureza. Do Infinito. De tudo o que é, foi e sempre será. De tudo o que É.

Porque apenas existe o que É. O que é Agora. O Agora é eterno. Se conseguirmos ser o agora, conseguimos ouvir o Infinito - Deus - a Alma do Mundo. Aquilo que todos somos.

Isso é o que eu gostava de Ser. Já o sou, como todas as coisas o são, mas não o Sei. Ou sei, mas não o sinto - não me sinto.

Sinto-me apenas demasiado cheia. Gostava de ser vazia. Gostava de Não Ser nada. Para poder ser apenas o Todo. Para conseguir ouvir o eco do Universo.

Mas não consigo. Há muito ruído. Muito conteúdo. Muito recheio. Que a forma se esbate. A forma, a coisa mais pura de nós, de mim, deixa de Ser. Passa a ser apenas um instrumento do mundo. Um utensílio dos homens, das coisas mentais e quotidianas.

Quero voltar à alma do mundo. Ao coração do universo. Quero ser só uma luz.

Sem nenhuma pretensão, objectivo ou afazer.



Mas quando se embarca na aventura da vida, não há volta atrás.

Porque haverá sempre um antes e um depois. Como há a.C. e d.C., mesmo para um homem tão divino como ele.

Uma pessoa, depois de nascer, não pode deixar de existir. Apenas pode morrer. O que é tão ou mais doloroso que viver.

E doloroso independentemente da alegria, felicidade, tristeza ou miséria que a vida de alguém tenha.

O único caminho que resta é Aceitar. Render-mo-nos à vida. Fazer paz connosco. Perdoar o mundo. Amar o que nos rodeia. E sentir o amor que irradia das coisas simples que ainda são verdadeiramente autênticas.

E, ocasionalmente, sentir uns flashes de lucidez. Ver a Verdade. Ouvir a Consciência de tudo. Ser livre. Livre de alma.

Simplesmente Ser.





18.01.2010 

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Preciso o que não é preciso

Eu sei que não deveria sentir nenhum tipo de carência ou frustração pela ausência da satisfação das minhas necessidades emocionais. Eu sei que, após tanto crescimento espiritual, emocional e cognitivo, a consciência inteligente deveria ser a bússula da minha direcção - e não a busca irracional de um desejo subconsciente de ver satisfeitas todas as minhas exigências reais e subliminares, verbalizadas ou subentendidas, imediatas ou futuras. Como se se esta satisfação estivesse situada num pólo exterior a mim; como se a sede pudesse ser saciada através de uma fonte que jorra uma poção composta pelo produto matemático perfeito entre a imoderada dependência e o estável comprometimento.

Eu bem aprendi, por conhecimentos divulgados e inspirações de verdade assimiladas, que este sentimento de bem-estar emocional é da nossa íntima e inteira responsabilidade, tem origem em algo simultaneamente interno e transcendente, e a sua magnanimidade é mais do que tudo o que alguém nos possa dar ou algo nos possa proporcionar.

Então, se isto é o que eu sei - que a minha razão arrumou já numa das prateleiras principais da minha biblioteca cerebral, que o meu espírito corrobora através do conhecimento iluminado daquilo que sinto como sendo a verdade - porque é que as minhas acções e pensamentos imediatos são guiados pela réstia de id freudiano e indivíduo médio que existe em mim? Será esta uma necessidade irracional de dramatização e de eterna insatisfação que é fomentada pelas personagens de telenovela, enredos de filmes teen românticos e elevação mediática em talkshows de casos de vidas subvertidas? Ou será que, no fundo, nunca nos conseguiremos libertar deste lado da natureza humana, que apesar de crescer em inteligência e espírito, será sempre também uma parte animal selvagem cuja índole grita pela sobreviência e necessidade de dependência emocional como ferramentas neolíticas de defesa contra o medo último do homem - a morte?

O que é sei é que enquanto as minhas acções não acompanharem o que sei, não saberei verdadeiramente.



01.09.2011


domingo, 17 de julho de 2011

Expressão é Criação

Diz-se que não devemos dizer nada, se o que tivermos a dizer não acrescentar nada ao silêncio. Mas será que é mesmo assim? Permitam-me discordar.
Tudo aquilo que se exprime não vale apenas pelo conteúdo que significa, mas pela própria expressão em si. Quando achares que não tens nada a dizer, fala.

Fala e vais-te surpreender como ao dares o passo de te abrires à expressão, começarás a criar. Palavra ocas serão preenchidas com as cores do subentendido. O teu espírito se abrirá ao mundo e aos outros, e irás descobrir novas estradas dentro de ti.

Não fales e verás como o bolor criado por palavras caladas e emoções reprimidas irá construir uma muralha à volta do teu coração. Terás a falsa impressão de que estarás seguro, não exposto à vulnerabilidade, guardando todos os teus tesouros num cofre dentro de um alçapão nos calabouços mais profundos dessa muralha. Dormirás em paz pensado que tens a chave desse cofre bem guardada num bolso junto ao peito. Mas após algum tempo sem usares esses tesouros, sem os ofereceres aos que te rodeiam, sem sentires o sabor dessa riqueza, vais começar a esquecer esse sabor. E os tesouros deixarão de ter importância. E o que importará é construir uma muralha ainda mais alta, para afastar dragões e povos instrusos. E a chave deixará de andar junto ao peito, um dia vais-te esquecer dela numa caixa em cima da mesinha de cabeceira, aí ficando na esperança desacreditada de um dia surgir um alguém por milagre que descubra a chave, desça aos calabouços, abra o alçapão, retire o cofre, encontre os tesouros e tenha a ousadia de usar os tão vangloriados, cobiçados e bem guardados tesouros.

Os tesouros não têm fim, mas a vida como a conhecemos sim. Estes tesouros foram-te oferecidos para que os ofereças, ou simplesmente te alegres pela sua presença em ti, dando brilho à tua jornada. Poderá ser que, ao ofereceres alguns desses tesouros, recebas também tesouros de outros (embora não necessariamente de quem ofereces os teus): preciosidades com diferentes cores e tons, feitos de pedras encontradas em diferentes partes dos confins do mundo, que tornarão o teu tesouro ainda mais rico e colorido, mais cheio de coisas para dar.

"Mas e se dou todo o tesouro, nada recebo e quando olho para o cofre já não sobrou nada?"
- Não tenhas medo de ficar com o cofre vazio, porque um cofre vazio é aquele que mais está preparado para receber. É aquele que perdeu o medo de perder porque nada tem. É aquele que tudo pode ser porque nada é. Ele possui a possibilidade do infinito.
- Não tenhas medo de te expor a riscos, de te sentires vulnerável, de seres pequenino. Quando nasceste o teu cofre estava vazio, não conhecias tesouros nem conhecias o medo de perder tesouros, e por isso tudo davas e tudo recebias. Esse tudo era tão pouco e tão pequenino, mas tão valioso, como o núcleo de um diamante que nasceu da grafite de carbono.

Por isso, fala e nada guardes.
Com isto acrescento - não sejas imprudente. Tudo o que pensas, pensa-o duas vezes antes de falar. Tudo o que sentes, sente-o cerca de dez mil vezes antes de o exprimir. E não te esqueças que ao exprimi-lo irás criar mais sentimentos sobre os quais irás pensar, e mais pensamentos que irás sentir. Estás a participar na criação.

Não é por acaso que a primeira frase de uma das histórias do livro mais famoso do mundo começa com "No princípio era o Verbo. E o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus".
Criamos com esse verbo que se gera dentro de nós. Mas após amadurecida a sua gestação, ele apenas cresce quando o libertamos para fora de nós. Vamos criar e fazer nascer vida. Chega de abortos de palavras e expressões, das quais somos os únicos juízes sobre a sua vida ou morte.




15.07.2011

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Conversa com uma flor

Estava hoje a caminhar despreocupada pela relva, com o sol de fim de tarde a bater-me nos sapatos, quando passo por uma flor branca com coração amarelo, junto a outras flores, mas destacadamente mais vaidosa e altiva que as suas vizinhas.

E digo aos meus botões: "Ainda bem que não sou flor. É muito melhor ser pessoa. Coitada da flor, que vida efémera e sem objectivo."
Pensando eu que a flor não me tinha ouvido, porque afinal as flores não tem ouvidos - coitadas.
Mas esta flor, vendo o seu orgulho de flor ferido, vira-se para mim e diz-me com a sua voz aguda e suave de flor, com um toque de arrogância e charme:
"Achas que sim? Eu sou flor e apenas sou, sem esforço nem pretenciosidade. O sol oferece-se a mim todo o dia e à noite deleito-me no manto precioso das estrelas. A terra alimenta-me sem qualquer cobrança.
Estou sempre aqui, sim - mas precisarei de mais alguma coisa? Se tivesse a escolha de andar ou ficar, escolheria ficar, pois nada existe de melhor que eu já não tenha aqui.
Achas-te muito importante porque corres, lutas, conquistas e até porque, como és pessoa, consegues ter tais pensamentos sobre uma flor. Eu não tenho pensamentos, mas sou parte da consciência do universo tal como tu.
Serei sempre bonita enquanto viver e quando deixar de ser bonita já não existirei. E mesmo com a minha morte tenho o poder de criar um fruto que está na origem de uma árvore tão grande e imponente - tão mais importante do que tu para a vida na Terra.
Eu sou flor, e tu és pessoa. Sim: sou flor."

Posto isto, nada mais me restou senão encolher os ombros e dizer "pois é..." com alguma melancolia e continuar seguindo até casa, onde iria iniciar a minha maratona doméstica habitual: "que sorte tem a flor".
E ela sorriu, levantando a sua cabeça de flor um pouco mais para o sol.


15.07.2011
17:40

* história verídica

quinta-feira, 14 de julho de 2011

O caracol


transcrito de 22.05.2002


Ontem pisei um caracol que deslizava na chuva do passeio. Segundo a filosofia existencialista eu cometi um acto de assassinato e deverei responder na minha consciência por isso, porque ela defende que somos responsáveis por todos os nossos actos - voluntários ou não -, o que é consequência da liberdade com que nascemos.
Não sei se sou existencialista ou não, mas que é certo é que, se o ar fosse constituído por substâncias espelhantes, poderia reflectir a expressão de remorso que o meu semblante deixava transparecer.



terça-feira, 12 de julho de 2011

I See You

I see you with my soul
And through you I see the world

I see you with my heart
And I see you as my part

I see you when it's dark
You lighten this inner spark

I see you as you see myself
And what I see I cannot tell

I see you in all colour shades
Crystal, dark and rainbow glades

I see you and I feel your pain
It falls on my head like healing rain

I see you and I feel your love
It comes from a magic ray above

12.07.2011















photo: Avatar 2009

A Fonte do Amor

Existe uma fonte inesgotável de amor
algures no universo
Essa fonte liberta calor
e de todos nós é o berço

É a matéria-prima do mundo
e faz parte das minhas células
É o verbo mais profundo
e o que une as coisas belas

Existe uma fonte inesgotável de amor
algures no universo
Essa fonte jorra cor
sobre ti, eu, e este verso

É a dádiva da vida
que grita por nascer
É a alma mais antiga
que este céu viu viver

Existe uma fonte inesgotável de amor
algures no universo
Existe, e eu bebo desse amor
Sempre que amor eu peço.


12.07.2011


















pintura por Akiane

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Amor e Inteligência

transcrito de antigo diário de 16.05.2002
5ª f, 23h20

A chuva cai. Estou sentada no parapeito da janela de sul. O ar cheira a nevoeiro, o orvalho infiltra-se nos poros. Através deles também eu faço a minha fotossíntese vital com a essência da natureza - que é metade de mim, do que sou, vivo e sei.
Este caderno novo cheira a pimenta entranhada no papel reciclado. Foi uma prenda de anos das minhas amigas de Ermesinde, de quem eu gosto muito. Contrasta com o perfumado colorido do meu antigo diário. A realidade concreta é agora visível menos ofuscadamente, talvez porque finalmente me ofereci a observá-la sem receio de constatar a verdade que, de resto, eu já conhecia, mas tinha ainda reservas em admitir a minha consciência dela.
Vim há pouquinho de um mini-teatro na escola, de jogos de voz, luz-escuro, cores e sons inter-penetradores - foi bonito, muito zen e simbólico. Pelo caminho vindo a passo solitário, embrenhada nos meus pensamentos fruto da atenção desperta ao exterior sugestivo e global, aprendi, descobri através de mim.

É estranho verificar que afinal as coisas não existem para mim até ao momento em que eu as sei - é uma
obviedade um tanto confrangedora, julgo.
É pricipalmente angustiante quando me apercebo que, apesar disso, as coisas continuam a existir independentemente de nós - é um dado pré-adquirido mas não posto em causa ordinariamente, dada a sua carga portadora de sentimento de impotência.

Somos todos produto de algo. Efectivamente, não temos um espírito próprio voluntário independente autónomo, porque somos sempre o resultado de condicionantes exteriores, interiores, passadas, presentes ou afins. São os genes, o meio, as vivências, as acções, as decorrências nas nossas estruturas intrínsecas, que determinam o que irá acontecer no futuro, ou a razão do que acontece no presente imediato. Além disso, somos também produtores, porque tudo o que é produzido também produz alguma coisa, pois tudo o que existe produz, nem que seja o produto resultante da sua petrufacção.

Se Deus existe, então ele sabe o futuro porque conhece todas as condicionantes de cada ser humano, animal, físico, não físico, vivo, não vivo - que juntas formam mini-conjuncturas. Conhece as relações entre elas e todas as possíveis respostas para as hipotéticas e efectivas interacções entre elas. Resumindo, conhece toda a história e situação Universal, ou não seria Deus. E sabe que o bem e o mal existem onde a vontade os acompanhar. E que o amor existe quando nós quisermos que ele exista, mas também o contrário, por isso é necessário cultivar o amor para que ele floresça.
E se Ele é bom é porque se inspirou na beleza Universal. É bom saber que a única "Coisa" que já viu e conhece todas as entranhas do Universo se fascinou de tal modo pela sua beleza e se apaixonou por ele ao ponto de querer catequizar os seres do mundo a cultivar o mesmo amor profundo em que se transformou essa paixão.

A única forma de ser conseguir amar o mundo é ter consciência dele. E a única forma de se ter consciência do mundo é através da sua absorção pelos poros da inteligência. Porquê colocar estes dois componentes em polos opostos, anunciando a incompatibilidade da sua interacção? Porque não podem amor e inteligência caminhar de mãos interlaçadas, trocando impressões dialogais e obtendo assim uma concepção mais completa do seu redor?
Poemas de lágrimas sufocantes se codificaram, de enredos de narrativas prosaicas páginas se encheram, episódios de vidas românticas se relataram - denunciando entre soluços a querela entre a razão e a emoção, como se comadres em plena quezila birrenta se tratassem - para quê?
Bem, mas já era altura de mudar, não é verdade?

Com amor, essência, vida, inspiração e Cia.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

A papoila é a minha flor



Transcrito de um antigo diário, escrito em 04.06.2002. As minhas desculpas pela intragabilidade deste texto, ainda não sabia escrever de forma simples.





A beleza das papoilas está na reminiscência do valor que elas simbolizam na mente criativa de quem as contempla, magicando no espírito algo que transcende a mera absorção das características perpecionadas sensorialmente, patentes na fisionomia da papoila.

A sugestão mística e natural deste elemento da criação espontânea floresce, porque a sua aparente eminência de desintegração, devido à supostamente inimiga força eólica, é mero erro de indução momentânea. Pois, é precisamente essa capacidade de aquisição de uma forma elementar, em sintonia com a energia controversa que a atinge (que são as pétalas amarfanhadas e cetinais que se fundem com o vento), que lhe permite conviver irreceosamente e numa tagarelice incessante figurada no cambalear do trémulo corpo que a sustenta - sempre ao sabor do seu amigo e companheiro de jornada de vida: o vento.

Além disso, o poder da sua resistência reside na sua sensibilidade, pois é o facto da sua incapacidade em perdurar com vida para além do local onde nasce e vive que a torna inacessível aos comerciantes de flores (se a colherem vê-la-ão desfalecer em pouco tempo). Por isso, a papoila conservará sempre aquela pureza selvagem original que todos os seres tiveram o privilégio de possuir no recém-nascimento da sua espécie.

Outra curiosidade é que as papoilas nunca se sentirão solitárias, pois as suas sementes têm a leveza para se pulverizarem trazidas na mão do vento em conjuntos que se completam.

Finalmente, é um ser que confere o privilégio de ser apreciado somente aos espíritos atentos e sensíveis à beleza do natural espontâneo no seu estado mais primitivo, pois não capricha nem inquisiciona quês em relação ao lugar onde desabrochará procurando requintes desnecessários e camufladores do que é realmente essencial - a papoila pode existir num campo transmontano, à beira das dunas de uma praia, ao lado de um terreno de construção civil ainda pouco "civil-izado", ou num monte de terra esquecido na berma de uma estrada. A sua simplicidade não advoga em nada contra a sua beleza, pelo contrário: a ausência de pretenciosidade ostentativa doa-lhe mais intensamente aquele sentimento de serena despertina perante a vida, em que o único interesse vital é absorver as sensações que a conversa com o vento e o convívio em latente sinfonia com as suas irmãs lhe proporcionam.

Portanto, a simples dádiva da vida é encarada como o único bem a assegurar: para ela, viver é o objectivo da vida.

Não sei se sou papoila - em alguns traços, espero sinceramente ser - , mas admiro-as muito, em todos os seus púrpuros aspectos.




Nota de rodapé: já tinha pensado este comentário sobre as papoilas há um mês, no caminho para casa ao observar as papoilas sanguíneas no terreno abandonado por que passei; só o escrevi agora porque só agora tive tempo e porque só agora cheguei à conclusão que escrever sobre papoilas não é ridículo.



terça-feira, 3 de maio de 2011

Medley de reflexões de cabeceira

transcrito de um antigo diário, escrito em 31.10.2001

(estou cheia de sono)!

Eu acho que o problema deste mundo é a falta de cultura. Não me refiro à cultura que implica o recital de datas de factos históricos ou de lenga-lengas capazes de dar um sorriso de orelha a orelha à titi orgulhosa da lição do sobrinho "que vai ser médico". Refiro-me à cultura que é capaz de abrir a mentalidade: dotá-la de consciência, dar-lhe a capacidade de ver a beleza do universo, fazê-la compreender a grandeza e originalidade deste mundo, submergi-la em percepção da imensidão de tudo aquilo que não sabe (e que por isso se torna atraente ou, quando intangível, simplesmente sagrado).
Esta é a chave para uma vivência construtiva e responsável - sabendo que o bem ou mal por nós feito é para nosso proveito ou desproveito.
Agora é só putos mimados que não sabem mais o que hão-de querer e sentem-se infelizes porque os objectivos são logo satisfeitos pelos papás, na proporção da sua vontade - e andamos nós a criar parasitas.

Dizem que as pessoas inteligentes amam menos, pois são geralmente mais racionais. Eu acho que elas amam mais mas é o mundo. Não se limitam a canalizar a sua energia positiva apenas em direcção a uma pessoa, mas também em relação ao avanço da evolução universal, porque têm uma consciência mais abrangente e global, sabem da importância da participação na história em que todos estamos metidos - queiramos ou não -, não se aniquilam do seu papel - missão, ou o que quer que lhe chamem - anestesiando-se em reality shows e novelas cor-de-rosa (que - ok, ok - podem ser positivos até certo ponto, se os encararmos como um meio de aliviar tensões e esvaziar o cérebro temporariamente).

O ponto de partida é a força de vontade: ela determina os que "são" e os que "não são" - porque "querer ser" já é "ser", mesmo que ainda ou nunca se chegue a "ser" efectivamente.

O mimo exagerado combate a lei essencial de manutenção da vida: sobrevivência a todo o custo. Torna o homem num ser melindroso (não apenas problemático - porque isso sempre o é) e, no ponto máximo, auto-destrutivo - em vez do ser-animal que ele, na Terra, em primeiro lugar é, regido pela "lei da selva".

Só para pôr um rematezinho porque agora tenho que ir dormir: o saber é viciante porque quanto mais se sabe mais se tem consciência do que não se sabe. A aceitação do falhanço é um passo para a vitória.



segunda-feira, 2 de maio de 2011

A minha oração: os meus desejos



escrito em 2000.11.19, transcrito de um antigo diário.


Eu quero que o entusiasmo alimente cada dia da minha vida.
Que o meu espírito seja sempre jovem e a alegria seja a minha luz.
Que os meus amigos sejam preciosos e que eu seja preciosa para eles.
Que a minha família seja o meu apoio, refúgio e aconchego.
Que os meus ideais nunca me abandonem e que a sorte me acompanhe para eu lutar por eles e alcançá-los.
Que eu seja sempre igual a mim mesma e nunca queira ser outra pessoa diferente, permanecendo assim espontaneamente eu.
Que eu ame a minha vida, com o coração e a alma.
Que eu obtenha dinheiro com o meu trabalho, para que assim também o meu corpo ame a vida.
Que Deus esteja sempre comigo, mesmo que em algum momento eu não o consiga ver.
Que eu encontre o amor verdadeiro em alguém e que tenha sempre esse alguém ao meu lado, para me compreender e viver uma vida partilhada.
Que eu influencie, nem que seja por um pequeno bocadinho, para melhor, este mundo.
Que eu viva tudo aquilo que me realize e complete.
Que eu me dê e que a mim se dêem (e que se veja mais disso no mundo).
Que eu não tenha inimigos ou de inimizade seja alvo.
Que a coragem e a força me acompanhem.
Que eu espalhe amor e outras coisas boas e que outros o reconheçam e retribuam, se assim o sentirem, puderem e quiserem.
Que me divirta.
Que nunca me esqueçam nem eu esqueça ninguém.
Que eu esteja sempre viva.
Que tenha sempre e use sempre a minha inteligência.
Que me abra e conviva com os amigos, os potenciais amigos e a sociedade, sempre que isso for bom (e que seja bom muitas vezes).
Que haja música.
Que eu consiga ajudar.
Que tome as melhores decisões.
Que obtenha bons resultados.
Que tenha saúde.
Que tenha esperança, paciência e persistência.
Que não me deixe iludir, mas veja o verdadeiro.
Que tenha, veja e espalhe beleza.
Que haja harmonia e equilíbrio em mim (e que o encontre sempre que me falte).
Que seja e me sinta livre, mas tenha raízes, bases, apoios, ninho.
Que ria, chore, viva.
Que eu mantenha sempre o meu nível de humildade e respeito próprio, mesmo que futuramente por vezes algo ou alguém possa dizer que sou superior ou inferior (socialmente, materialmente, ou qualquer-coisa-mente).
Que respeite os outros e seja respeitada.


Amén.


Obrigada.
Obrigada.
Obrigada.


domingo, 1 de maio de 2011

Qualidades que aprecio em alguém que me complete

[Escrevi isto com 17 anos, em 25.07.2002, mas ainda continua válido]:

- dignidade interior
- força de espírito
- virgindade do acto de viver renovada a cada instante
- aventureiro
- sensibilidade
- bom senso
- maturidade paternalista
- a minha protecção, refúgio, conforto interior
- que saiba filtrar a realidade, mas não de forma tão artística como eu: mais realista, porque preciso de um ponto de apoio vertical e não tão fantasiador como o meu
- inteligência
- panteísmo das coisas simples e fugazes
- flexibilidade (mas não de princípios)
- compreensão profunda e aberta
- beleza que raie de dentro e se reflicta por fora
- que aprecie as coisas artísticas e simbólicas
- consciência da grandeza do universo, da pequenez do nosso ser e do valor único da existência de cada coisa e cada vida
- que me valorize porque me conhece (e apesar de me conhecer) e me Ame
- omnipresença
- que seja superior às minhas birras
- que tenha consciência da minha beleza interior e exterior efectiva mas, porque me ama, me veja ainda mais bonita
- sentido da minha liberdade e espaço individual
- que nunca se esqueça de mim e me o faça saber
- conquista constante
- generosidade com os outros, comigo, com a vida e com os que têm menos
- que adore viajar
- humildade e simpatia
- alegria e vontade de viver
- respeito inalienável no bem e no mal
- criança frágil  no íntimo
- resistência e paciência
- força interior
- cumplicidade
- comunicação insaciável comigo
- sentido de igualdade e justiça

...
  ...
     ...


quinta-feira, 17 de março de 2011

God of Love


When the sun is bleaking in the dawn
You fill my soul with a magical mist
I can hear you in the birds' voice
Who cherish the new day being born
They sing the sheer joy to exist
And in their chant there I rejoice


I found you dear God of joy
You are the light nothing can destroy


When the waves are crushing in the sea
You empower my body with glowing sparkles
I can feel the sublimity of such a force
Which binds sun and moon through gravity
They enchant the tides to create marvels
And in their blended motion I find the Source


I found you dear God of power
You are my rock in every hour


When the stars are embeleshing the night
You uplift my mind with a glorious shine
I can see the galaxies throughout infinity
Who reveal mysteries with a crystal insight
They show us the grandeur of space and time
And I watch how small and wide is eternity


I found you dear God of Truth
You are the sight of our blinded youth


When the mother holds to her breast the child
You melt my heart with your tender embrace
I can sense the holly bond of life burning
Which sparks a flame so gentle and wild
They are one blood from the family of human race
And in their warmth I wake up and start dreaming

I found you dear God of Love
You are like that subtle divine flying dove...

17.03.2011

I don't know how it happened, but when I finished this poem it looked like the rhymes were all wrong  and unsymmetrical in the main strophes, I got really frustrated because I thought I would have to redo it all again. Then I looked closely and noticed each rhyme has 2 verses of interval between each other, which is kind of cool. There is no predefined rhyme structure in each stanza, but afterall there is an interdependent logic when you check closely. The melodic rythmn is not felt instantly like in the other poems because the verses are all crossed...but in end I'm happy that it turned out differently from what I imagined.





terça-feira, 15 de março de 2011

Dear one

I hope today is a sunny day for you. Do you feel the life flourishing around you? Do you see the gifts God gives you everyday? Do you feel the joy in your heart and the sheer excitement to live another day?

I always try to be happy because I believe God made me - and you, all of us - to be happy, not sad. So in order to honour God and the life the he gives us, we should always try to be the best version of ourselves. Don't you think so?


There is so much love is the world and in the beauty around us, we just need to open ourselves to feel it.
Sometimes when I am feeling that love, I feel so light like if I am going to fly with a bunch of hot air ballons inside me. Have you ever felt that?


What is the most important thing in the world for you? For me, it is truth. That simple, basic, clear, crystal truth. It is often hard to see the truth through all the distractions and everyday illusions of the routine. Often what seems, is not. But if we keep a pure child-like heart, if we dress ourselves with love and make peace with what is, and smile even in our liver, the truth will shine.


Sometimes I have this fantasy of living on top of a mountain with just the simple things of life, like the people from the past. How easy must it be to feel the truth, beauty and love in that way of life!
Do you feel it presently in your way of life? Have you found the way?


Life is a constant search, we are never fully complete. Perfection is always an unfinished job. But as long as we have a purpose, that's what matters. To be significant.


Do you love the world, dear one? Do you feel that compassion?
I have hope for the world. The world is made of people - like you and me - and there are good people. Love has the power. More power than anything else. We just need to build that power with faith.





photo: 27.02.2011 Late afternoon sun peeking throught the trees in the Fern Valley, in Buçaco forest (notice how the tree in the middle looks like it has yellow leaves, when in reality the yellow is given to the leaves by the sunlight, because in naked eye the leaves are all green. I love this tree and the way it appears to be floating in the air, so light and perfect, it looks like a painting)

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

The House

There is a house on top of a hill
As true and dreamy as a windmill
A lovely house where flowers grow
And corn breeds on the fields below

There is a house where children giggle
So full of light but not regal
A paradise for the little boy
And the perfect nest for pure joy

There is a house in the heart nature
Where love is real beyond the picture
A house who sings the voice of God
And paints His beauty so broad

There is a house, it's not a dream!
It's in a place I have never been
But I can tell you someday you'll see
There will grow a sweet family...

28.02.2011


photo: Emmental - Lauperswil

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Prision of Gold

There is a gold crown on her head
And people think she's a queen
But it's a crown of thorns instead
And the pain is yet unseen

Today she learned that less is more
As she is standing alone on the shore

There's a bracelet around her hand
Engraved with gems so precious
As a handcuff trying to pretend
She is lucky and just so gorgeous

Today she learned freedom as no price
As she is throwing another dice

There is a luminous smile on her face
Which shines all along the way
But hiding memories she can't erase
To thrive through another day

Today she learned the joy of the child
As she is running into the wild

Royal necklace lays on her chest
One she dreamed of for so long
But as a rope tied for arrest
It's suffocating her lifesong

Today she learned dreams can be misleading
And sometimes not worth achieving

-"Was it meant to be like this?
  Did I need a poisoned kiss?"
-"Is it for my spiritual growth?
  Is this the something that I chose?"

And as she looked up empty and alone
A voice whispered from the unknown:

You shall know the truth my child
Just return to your eternal essence
And keep your pure heart so mild
Life will bloom with a holy fragance...

23.02.2011


Love actually is...all around

When you wake up wishing for sun
But the rain is painting your window
Draw a smile and have fun
Later there will be a rainbow

When life is black and white
And you can’t seem to tune the colours
Hold my hand until the daylight
Come friend, the night is ours

When you think the world is mad
- Is peace just a word on the bookshelf?
Look up and don’t be sad
You see, peace is inside yourself!

When you have lost faith in love
Searched but did not found
Smile and keep faith on above
Love actually…is all around!

22.02.2011



Rebirth

She is walking through a forest
Hovered by a veil of darkness
Gazing with awe at the shadows
Dress swirled by the dance of dust

She is whispering a devoted prayer
Clinging to an imaginary rope
Blindly painting layer after layer
The bleak forest with brushes of hope

She is looking for the angels
Whom she heard of in the books
But as she runs there are devils
Tangling her dress on their hooks

As she swoons body and heart
A crystal water floods her eye
The moth dress tears apart
And she reborns like butterfly

21.02.2011

The Way

There is way, clear and wide
There is a ray of light by your side
Don't stay astray, don't subside
Look at your heart to be your guide

21.02.2011

Blue Freedom

Flying in the sea of blue
Swimming lightly in thin air
Breathing this freedom through
Floating in between nowhere...

20.02.2011
























photo: 24.12.2010.

Return

Here I arrive to the start of something new
Now I'm reborn to a soul of innocence
Now I can see the dream I once drew
Here I return to the truth of your presence

20.02.2011


photo: 2005 Vila do Conde beach, Portugal