terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Amar: por pensamentos, palavras, actos e omissões

Se queres amar plenamente (e amar só o é se for plenamente), tens que amar em todas as dimensões de ti: por pensamentos, palavras, actos e omissões.

Amar é ser amor: amas primeiro em pensamentos (ou no "coração") - dentro de ti, por ti, através de ti. O pensamento é a semente atomizada que existe antes de qualquer outra coisa acontecer: pré-existe; mesmo antes de tomares consciência do que está a acontecer, mesmo antes de saberes que amas - já amas. Amas por motivos inconscientes que estão fora do teu controlo de vigília; amas no estado de piloto automático - e por isso se diz que o amor é irracional (não é, mas simplesmente lhe desconhecemos as razões). Por isso - e aqui corrijo, ou antes, aperfeiçoo a afirmação inicial - amas primordialmente nos não-pensamentos: no fundo de ti que até tu próprio desconheces.

Amar é dizer amor: amas quando partilhas por palavras o amor que sentes com a pessoa que amas - e assim esse amor que dizes se transforma de pensamento esfumado para linguagem materealizada no verbo. E do verbo (que é, desde o início dos tempos, o princípio de tudo) se constrói o sentimento, tornando-o na palavra um bocadinho mais humano e um pouco menos puro (porque nunca é possível dizer o amor de forma perfeita e absoluta como ele o é, por isso ao dizê-lo estamos a reduzi-lo, a aprisioná-lo na forma de uma palavra) - mas, acima de tudo, em algo que podemos quase tocar, (tentar) compreender e lhe desenhar uma lógica, encaixando-o estruturadamente no sentido que lhe queiramos dar (mesmo que nem tudo tenha que ter sentido). E do verbo (que forma, desde o início dos tempos, a forma de tudo) se reciproca o amor, elevando-o ao quadrado.

Amar é fazer amor: amas quando validas o teu amor com actos que são a expressão e a prova desse mesmo amor. A sabedoria do povo acumulada ao longo de séculos resume singelamente este facto nas expressões: "talk is cheap" (falar é fácil) ou "de boas intenções está o inferno cheio". Palavras de amor que não são legitimadas com gestos de amor são meras palavras ocas e isentas de força; intenções verbalizadas em palavras bonitas que depois não se traduzem em verdadeiras acções pró-activas (não me refiro a acções passivas e fáceis, decorrentes do desenrolar do tempo, mas a acções consequentes de decisões marcantes que salientem a existência do amor que é sentido e a verdade do amor que é dito) são inúteis rascunhos nos quais mais valia que não se tivesse gasto papel, tempo e energia - porque nada produzem, são a energia da inutilidade pura. Amor que é amor e que valha a pena viver em vida é amor que se faz: amor que transforma - o nada em tudo, o quase em feito, o sonho em realidade.

Amar é sacrificar por amor: amas pelas omissões que decides fazer - por aquilo que deixas de fazer porque amas. O poder do amor só existe quando este é capaz de te fazer ceder à abnegação pessoal em favor do outro (algo tão démodé, eu sei) e te fazer entregar voluntariosamente ao sacrifício que exige a vivência humana do amor. Amar é aquilo que podias fazer e não fazes, aquilo que te apetecia mesmo mas não queres (a mentira não vivida, a traição não cometida) ou aquilo que não te convinha nada mas fazes (o filme que preferias não ver, o dinheiro que preferias não gastar); é perderes uma parte do teu espaço para ganhares o espaço comum do amor, é retirares tempo do "eu" para dar mais tempo ao "nós"; é cortar um pedaço da tua costela, do teu orgulho, do teu conforto e dar um bocado de ti: é dares-te. E assim seres menos tu - mas mais amor. E não te importares nada com isso, porque sabes que aquilo que perdeste é muito inferior àquilo que ganhaste - e sabes bem. E sabe bem.



05.03.2012



segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Que se lixe o amor

Que se lixe o amor. Que se lixe o amor egoísta, condicional e limitado. Que se lixe. Amor que não é total, absoluto e absorvente é um semi-amor, um pseudo-amor, um amor-inho. Que se lixe esse amor. Mais vale fazer greve ao amor, se ele não respeita os direitos do ser-amor e não merece o título de amor. Mais vale.
Amor que é pequeno mata o amor, afoga-o num esgoto entupido e abafa-o num saco de lixo reciclável. Meio-amor, quase-amor, proto-amor é a maior ameaça ao amor e é por causa desta imitação de amor que andamos para aqui todos a sofrer - uns baixinho, outros facebookamente; uns sabendo, outros cegamente; uns tristes, outros contentes. Mas todos sofridamente: com coraçõezinhos, joguinhos de quem-dá-mais e quem-recebe-mais e corridas cor de rosa de cão e gato.
"O amor é lindo" - até pode ser, mas não aquele que está disfarçado de amor mas não é amor: é medo, é necessidade, é falta de amor - esse é feio. Muito feio. Lamento, mas sou fã da beleza. E lamento, mas sou fã da verdade. Não quero viver dentro de conto colorido de marionetas amestradas e felizes a desempenhar o papel de amor.
O amor que não é suficiente, não é amor. Porque a própria palavra amor tem dentro de si o infinito, o abundante, o êxtase saciado. Amor insuficiente é desamor - é exactamente o contrário de amor - é o caçador furtivo do amor - porque te seduz e te engana e te faz atraiçoar a ti próprio sobre o que é o amor; faz-te duvidar do amor, faz-te desacreditar do amor.

O não amor - a ausência de amor - não me causa alergia, porque o amor em estado off na vida não é pretensioso nem eminentemente acutilante: faz-te centrar no eixo que te move e te equilibra; faz-te acordar como um recém-nascido para o mistério do rumo da tua vida; faz-te voltar a não ter nada a perder e por isso sentires que podes ter tudo.

Mas o amor que é percentagem de amor e que pedantemente se faz passar pelo absoluto amor - ah, esse que vá trabalhar com os outros sentimentos corrompidos no parlamento da carência, porque na sede partidária do meu coração só é carnaval um dia em 365 e nem mesmo nesse quero ver um amor mascarado.


04.02.2012

sábado, 11 de fevereiro de 2012

A omnisciência da ciência

"Omnisciência: a capacidade de saber tudo infinitamente (ad infinitum), incluindo pensamentos, sentimentos, vida, passado, presente, futuro, e todo universo. Na maioria das religiões monoteístas esta habilidade extraordinária é tipicamente atribuída a um único Deus supremo, onde o conceito da omnisciência se mantêm tradicionalmente como uma verdade absoluta."

A ciência não é omnisciente. Se és pela ciência, és pelo desconhecido: a ciência só estuda aquilo que desconhece . É esse o objectivo de se construir ciência: conhecer o que se desconhece; traduzir em leis humanamente inteligíveis aquilo que é aparentemente ininteligível.
Se dizes que és uma pessoa científica e racional e que, por isso, não acreditas em nada que não tenha sido cientificamente comprovado até ao momento, estás a ser comprovadamente obtuso. Pois até a Ciência, que tanto deificas, acredita naquilo que não foi cientificamente comprovado até ao momento - caso contrário, seria encerrada: diríamos: "Já sabemos tudo o que há para saber, meus senhores; despeçam-se os cientistas, encerrem-se os laboratórios, sejam transformados em museus os centros de investigação".

Ressalvo: se preferes, por opção pessoal, acreditar só naquilo que está cientificamente comprovado - que é o mesmo que dizer que só acreditas na ciência do passado, pois a ciência do presente, e que será a do futuro, encontra-se em fase de estruturação nos minutos que correm - podes fazê-lo, sim. Mas quero só irritar-te um pouco, sussurando-te rispidamente ao ouvido que essa "posição intelectual" (atitude que chamo usando da minha sensata condescendência, porque a minha vontade é chamar-lhe de "crença ideológica") é tão parcial e velada de verdade (tão tapadinha e estúpida, para ser mais clara) como qualquer outra crença religiosa ou ideológica (essas coisas estranhas que tu detestas) que coloque a defesa dos seus princípios à frente das razões para a defesa dos seus princípios. Se defendes a ominisciência da ciência, defendes a ditadura daquilo que se sabe - e nunca chegarás a saber mais: serás cegado pela luz que te deveria iluminar.

A ciência é pelo mistério. E digo-te mais: cientificamente, tudo é passível de existir, até que seja passível de se provar que não existe; tudo pode ser verdadeiro, até que se consiga provar o seu contrário. Por exemplo: sabemos que o céu é azul, e temos a certeza que o céu é azul, porque temos a capacidade de cientificamente comprovar que ele é azul e não é vermelho, nem verde, nem nenhuma outra cor. Mas, por exemplo: não sabemos se a telepatia existe, porque não temos meio de provar que ela existe; mas também não sabemos se a telepatia não existe, porque não temos meio de provar, por nenhuma fórmula, que ela não existe - então, apesar da ciência (ainda) não ter descoberto a telepatia, não podemos dizer: "ah, a telepatia não existe, porque não existem provas; é um mero fruto da imaginação e da necessidade do homem acreditar em algo." Acontece apenas que a ciência (o homem) ainda não conseguiu comprovar ou descomprovar a existência da telepatia.

Espero que até aqui já tenhas percebido a lógica da batata: não tem nada que saber.

O meu conselho (apesar de não mo teres pedido, eu sei) é: aceita que és pequeno e abraça o desconhecido com humildade - pois só assim descobrirás, com a ciência ou a consciência, como és grande.


27.03.2012

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Fórmula de Deus (carta aberta a Fernando Savater)

Caro Fernando Savater:

Ainda vou nas primeiras páginas do seu livro e não me contenho em lhe escrever. Sei que seria mais sensato ler o livro até ao fim para depois aludir metodicamente a cada um dos seus argumentos e combatê-los um a um, não deixando assim nenhuma ponta de fora que possa ser utilizada contra a minha própria contra-argumentação. No entanto, o meu pequeno resquício de faceta sanguínea ergue-se involuntariamente de dentro de mim ao ler o que tão admirável e letrado cérebro literário espalha com vigor aparentemente racional nas páginas do seu livro anti-vida eterna intitulado precisamente "Vida Eterna".
Ora, como será possível - argumenta o meu estimado escritor - que mesmo actualmente, numa época de tal avanço tecnológico, ainda cerca de 40 por cento dos cientistas acreditarem em Deus - o que é, de resto, a mesma percentagem que há séculos atrás? Como será possível - pergunto-lhe eu - as pessoas andarem tão ceguinhas para acreditarem em algo tão irracional, mesmo não estando nós mais mergulhados na idade das trevas em que a religião era utilizada como ferramenta de concertação social das massas?

Ora, meu caro e admirado escritor, deixe que lhe diga - olhando de baixo para cima, da base da minha humilde posição de leitora não especializada - que a oposição argumentativa Deus versus Ciência (tão popular e - perdoe-me - tão óbvia, tão fácil de construir) não é mais que uma falácia - sim: uma falácia.

(No meu caderno de notas eu tinha isto esquematizado em desenho - forma bem mais fácil de lhe explicar - mas vou tentar traduzir em palavras):

No momento presente, Deus (que, segundo o seu raciocínio, joga na equipa A): é o inexplicável; Ciência (que, segundo o seu raciocínio, joga na equipa B): é o explicável - certo? - até aqui penso que concordamos.
Cada um deles tem as suas limitações: as limitações de Deus são o facto de não ser explicável ou provável porque não temos (ainda) essa capacidade; as limitações da Ciência é o espaço/tempo em que nos encontramos (não conseguimos saber mais do que se sabe até ao momento presente, no contexto em que vivemos), a inteligência (que, mesmo nos Q.I. mais elevados, tem um limite), e a percepção sensorial (não conseguimos absorver mais sensorialmente do que aquilo que os nossos sentidos nos permitem).
Esta é a situação no momento presente.
No futuro, meu caro Fernando Savater, poderemos colocar a hipótese de a própria Ciência ser capaz de de explicar Deus - de o converter numa fórmula matemática. Podemos imaginar até (pois se até o génio Einstein defendia a imaginação face à inteligência, como veículo de criatividade científica construtora de conhecimento - e não apenas seguidora de conhecimento) que, no momento em que a Ciência for capaz de explicar Deus, esta terá atingido o seu último patamar.

Até lá, temos simplesmente que aceitar que Deus é inexplicável.

Posto isto, existem duas opções à escolha de cada um de nós - incluindo à sua (e agora, permita-me tratá-lo na segunda pessoa, não por atrevimento, mas por preguiça em manter o meu estilo directo de escrita):

1. Aceitas que na tua humilde condição humana tens limitações (no momento presente, é certo - no futuro podemos ser vir a ser ilimitados), vestes o "eu só sei que nada sei" de Sócrates (o original, não o corrompido) e decides - mesmo sem provas suficientes - acreditar naquilo que a tua intuição "sabe" que existe (e a intuição não é mais do que o produto de um pensamento instantâneo que ocorre no subconsciente e cuja resposta te surge a nível consciente, dando-te o resultado de uma pergunta mas não te deixando ver o caminho pelo qual chegaste à resposta) - a isto também de chama "fé";
2. Decides que o homem é todo poderoso: que tudo o que o homem consegue explicar existe e tudo o que o homem não consegue explicar não existe.
Esta segunda atitude faz-me lembrar - e desculpando-me antecipadamente pela tosca e nada fundamentada comparação - a mesma que levou a que a Giornado Bruno fosse morto por alegadamente defender que a Terra gira à volta do Sol (o helicentrismo de Copérnico): como os sábios da altura não conseguiam explicar tal teoria, rejeitavam à priori essa verdade, pois violava a sua percepção sensorial e os meios de prova de que dispunham. Só passado muito tempo, quando se conseguiu comprovar e estabelecer na comunidade científica que a Terra gira mesmo à volta do Sol (e não o contrário, como se pensava até então) é que se conseguiu quebrar essa heresia - até que hoje toda a gente sabe que a Terra gira à volta do Sol, apesar de para nós não parecer, pois somos demasiado pequeninos para termos a visão global daquilo que realmente é.

Resumindo, se decidires que, como não consegues explicar Deus, Deus não existe - estás no teu direito. Mas não estás no direito de dizer que Deus não existe - apenas podes dizer que decidiste não acreditar em Deus, porque ele ainda não é explicável - porque não te esqueças que, assim como a Ciência ainda não pode comprovar que Deus existe, a Ciência também ainda não tem meio de comprovar que Deus não-existe. Isto por si só é a prova de que ainda não chegamos ao tempo em que a Ciência será capaz de explicar Deus: com uma fórmula completa nos provará por A mais B que Deus existe (ou não existe).

Compreenda então, meu caro Fernando Savater, como pessoa racional e imparcial que é, que grande parte dos nossos estimados cientistas, optaram pela opção 1: pois é a opção 1 - a de se sentirem pequenos no universo, ignorantes face ao infinito e ávidos por mais conhecimento - que torna o cientista na mente simultaneamente humilde e poderosa que é.


sarrabiscado a 21.02.2012 - 4:30



"A coisa mais bela que o homem pode experimentar é o mistério. É essa emoção fundamental que está na raíz de toda ciência e toda arte."

“A religião do futuro será cósmica e transcederá um deus pessoal, evitando os dogmas e a Teologia.”

“Sem a convicção de uma harmonia íntima do Universo, não poderia haver ciência.”

“Você não pode provar uma definição. O que você pode fazer é mostrar que ela faz sentido.”

“A ciência sem a religião é paralítica - a religião sem a ciência é cega.”

“A mente avança até o ponto onde pode chegar; mas depois passa para uma dimensão superior, sem saber como lá chegou. Todas as grandes descobertas realizaram esse salto.”

“Penso 99 vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio: e eis que a verdade se me revela.”

“Deus é a Lei e o legislador do Universo.”


Frases de Albert Einstein






quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Deus é tabu, sexo não

Chegamos ao dia em que é muito mais socialmente aceitável falar de sexo do que falar de Deus.

Antigamente, quando se queria referir ao dito cujo sexo, usavam-se todos os eufemismos, sinónimos e metáforas possíveis para se referir "àquilo" que era o fruto proibido apenas tacitamente permitido no leito conjugal legalmente selado. Actualmente, finge-se que o dito cujo Deus não existe senão num local apropriado para o efeito e devidamente resguardado de olhares impróprios (igreja, santuário, centro paroquial) ou somente na intimidade de cada um.

Deus te livre de dizeres que acreditas em Deus em público, a criaturas mundanas exteriores numa conversa casual! Uma coisa é acreditares em privado, à noite com os teus botões ou em momentos de desespero que te levem à loucura de conceber tal fantasia. Outra coisa é escarrapachares grotescamente numa tertúlia semi-alcoolizada que acreditar em Deus é para ti tão natural como respirar e tão bom que queres acreditar insaciavelmente todos os dias e todas as noites, sobretudo aos fins de semana, feriados e férias - que é quando estás mais disponível e aberto para acreditar [nota irónica de analogia com o sexo].

Antigamente, se um comum mortal verbalizasse ao seu círculo social que gostava de sexo (tal como qualquer ser humano biologicamente saudável e funcional pode e deve gostar) seria prontamente cruxificado e colocado num frasco para ser analisado em laboratório, não só pelo facto em si, mas por ter tido o descaramento de o admitir. Actualmente, ser ateu ou agnóstico é considerado um sinal de afirmação cool e até de superioridade intelectual típica de quem não vai carneirada (se bem que, tendo em conta a inversão de tabus aqui exposta, actualmente ir na carneirada é precisamente ser ateu ou agnóstico), mas se tiveres a lata de dizeres que acreditas mesmo em Deus - assim, de repente, à frente de toda a gente, em plena luz do dia e perante as câmaras e olhares curiosos - és imediatamente submetido a um interrogatório extensivo sobre todos os "comos" e porquês" e, na melhor das hipóteses, posteriormente catalogado com uma etiqueta brilhante a dizer "diferente", "antiquado" ou "inocente" (isto se o teu interlocutor for condescendente e achar que o teu caso não tem cura, caso contrário, prepara-te para uma tentativa de evangelização laicista).

Deus te livre de dizeres que acreditas em Deus sem tabus! Uma coisa é dizeres que és uma "pessoa ligeiramente espiritual", dizeres que és um "crente não praticante" (o que por si só é uma antítese bastante paradoxal, pois independentemente de participares ou não nas actividades da tua religião, praticar a tua crença consiste simplesmente em vivê-la, nem que seja no teu interior - e se não a vives não acreditas: pseudo-acreditas, ou acreditas em potencial, mas não de facto), ou dizeres que és uma pessoa que acredita numa "força-superior" ou numa "energia-da-natureza que-une-todos-os-seres-pelo-amor". Outra coisa é deixares as metáforas e eufemismos de lado e chamares a essa força D-E-U-S com todas as letras, sem um pingo de vergonha na cara nem o recatamento de modéstia espiritual que requer semelhante afirmação aberrativa passível de ofender a sensibilidade rude dos teus próximos.

Chegamos ao dia em que o kama sutra é biblificado, o gemido é venerado e o prazer é louvado. Mas a fé é sussurrada, a oração é censurada e a crença é recalcada.
Neste belo dia a que chegamos, se disseres publicamente que acreditas em Deus vais ter que te confessar e redimir desse pecado até te reconverteres à laicidade ou, no máximo, à dúvida metódica - ouviste, ó ímpio?

Neste belo dia a que chegamos, o tabu do sexo já foi - graças a Deus - derrubado. Ora - por amor de Deus - parem de edificar agora o tabu de Deus, não vá acontecer que o homo sapiens desafie a lei de Darwin e retroceda para homo erectus. Que possam viver a partir de hoje os dois erectos na sociedade: o sexo - e Deus.


09.02.2012

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Eixo

Delegar em Deus tudo aquilo que foge ao nosso real controlo - este é o segredo para a paz de espírito e a serenidade perante as adversidades maiores -, sabendo com segurança que em algum lugar do universo tudo estará bem e sempre esteve. Esse lugar existe também dentro de nós e podemos voltar a ele sempre que queiramos - desde que saibamos o caminho.

E qual O caminho? Poderá ser diferente para cada um de nós, mas só existe um único caminho directo para a alma, para Deus, para esse" lugar", em cada Ser. Para mim, é a Verdade. ("You shall know the truth and the truth will set you free"; "I am the way, the truth and the life"). A razão porque a verdade liberta é porque traz a paz plena - o chamado "céu". Porque todas as conquistas serão ainda mais gloriosas quando as elevamos pela gratidão ao bem do universo; e todos os buracos de dor serão curados quando entregamos ao bem a responsabilidade por cuidar de nós com a confiança de que tudo existe por um motivo maior, que tem sempre origem no bem - pois o bem é a fonte de toda a criação, de tudo o que existe.

Mas isto, meus amigos, é algo que cada um só consegue enxergar com os olhos da alma; nenhum tipo de raciocínio seria suficiente para fazer um cego intelectual ver esta verdade que, uma vez descoberta e sentida, ficará gravada eternamente no teu ADN espiritual evolutivo (sim: o teu genoma evolui ao longo da vida - isto é: se tu evoluíres em vez de vegetares *  *). E, após imbuída intrinsecamente no teu âmago, esta verdade será sempre a tua ponte de salvação para a vida - por mais que voltes a tropeçar, por mais que as distracções te levem para longe da verdade, por mais que julgues que te perdeste do caminho: voltarás sempre para casa, pois o Caminho não te deixará perder e aceitar-te-á sempre de volta com os braços abertos de amor.

O meu objectivo é fazer o mínimo de desvios possíveis, de modo a rentabilizar ao máximo a minha vida. Sempre que me tiver esquecido de como é sentir este amor divino, deixo aqui uma nota pessoal de que (para mim) geralmente o melhor remédio é através da música, do silêncio, da visão de algo inspirador na natureza ou do conhecimento científico de algo tão extraordinário que assoberbe a alma.

Além disto: rezar, que - apesar de para os leigos parecer ortodoxamente antiquado - é a melhor meditação e terapia até agora inventada na sociedade ocidental e oriental e, até ao momento em que escrevo, ainda não ultrapassada por nenhuma outra invenção moderna. Porque quem reza coloca-se constantemente perante Deus de forma nua; põe à prova as suas acções face a um ideal; põe-se em cheque; desafia-se a ser melhor; submete-se a uma permanente autoscopia sem hipótese de fuga da verdade; sente o sabor da humildade como um bálsamo para o coração deixar entrar o amor; e aprende a amar a verdade, pois só ela nos permitirá avançar, através da aceitação, do perdão, da justiça e da gratidão.

Não sei se fui suficientemente clara, mas de qualquer modo só quem partilhar do mesmo ideal e tiver presente em si esta verdade de crença, é que conseguirá compreender a mensagem na sua plenitude.

Os restantes, poderão processar o raciocínio lógico, mas não atingirão o significado no seu íntimo - por isto, apresento as minhas desculpas e os meus pêsames.


08.2011

 



segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Quantas vidas já viveste?

A vida é uma série de recomeços.

O aparente processo biológico de nasce-cresce-envelhece-morre é algo que acontece num ciclo cronológico único às células do nosso corpo - mas que acontece em sucessivos mini-ciclos consecutivos aos átomos da nossa alma.

Durante a tua vida vais-te sentir: a crescer - quando algo insuflar o embrião do que queres ser - ; a envelhecer - quando algo amadurecer a tua bíblia autobiográfica - ; a morrer - quando algo triturar em bocadinhos tudo o que pensavas que sabias e implodir o teu suspiro - ; e a nascer - quando das cinzas acordadares para o raio de sol sobre a lucidez crua de que quando não tens nada não tens nada a perder: e assim te é parida uma nova vida bebé dentro da tua vida (e que, como bebé que é, começa com o choro da primeira respiração).

A vida é uma série de recomeços.

Por isso, quando estiveres a crescer não te afogues na sofreguidão; quando estiveres a amadurecer não te percas na ganância ambiciosa de manter o que conquistaste com a ansiedade do para-sempre; quando estiveres a morrer não te iludas que será o fim de tudo e pensa que tudo passa, pois nem a morte é permanente; e quando estiveres a renascer não te absorvas pela toda-poderosa sensação virgem e procura enquadrar este nascimento em tudo o que aprendeste das tuas outras vidas - dos teus outros mini-ciclos de vida - fazendo de cada vida um renascimento - nascendo em cada ciclo num patamar evolutivo superior.

Diz-se que há vida para além da vida; diz-se também que há reencarnação para além da vida; diz-se que só há morte para além da vida; diz-se também que a reencarnação é uma treta ultraespiritualisada - mas não é nada disto que eu estou a falar (hoje).
Do que eu estou a falar (se é que me entendem) é das vidas dentro desta vida; dos nascimentos e mortes dentro desta vida que nos fazem crescer e que nos trazem em cada morte mais vida.

A vida é uma série de recomeços.


05.02.2012.
5:00

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Sou perfeita

Perfeita: não por comparação a um modelo pré-concebido daquilo que deve ser a perfeição estereotipadamente falando, mas porque não existe ninguém mais perfeito do que eu a "ser eu." Eu fui feita para ser eu - não para ser a maior aproximação da perfeição social da actualidade - por isso sê-lo-ei tanto mais quanto mais eu for a minha essência em cada momento.

Assim sendo, a dificuldade em ser perfeita está em afastar todas as distracções plásticas do mundo formatado - para se conseguir ser fiel ao interior eterno que sempre foi. A busca da perfeição socialmente moldada é que cria imitações forjadas que estão na origem do ciclo de insatisfação que a mesma sociedade promete saciar.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Sou só uma

transcrito de um antigo diário, escrito em 07.07.2002



Às vezes apercebo-me de que sou só uma.

Eu vou explicar: o facto de viver numa zona pequena e pacata, numa casa e num quarto só para mim - entre outros factores - pode-me dar uma sensação de um egocentrismo saudável ao equilíbrio psicológico - pois como estou inserida num ambiente que consigo dominar, e que por vezes quero extravasar, isso dá-me uma estável impressão da minha indispensabilidade, como se eu fosse inerente à harmoniosa manutenção contínua do ambiente em que vivo e dos seres que o constituem.

No entanto, por vezes tomo consciência daquilo que está na base do icebergue: apercebo-me da imensidão daquilo que não sei, da quantidade de lugares em que não estou, da longevidade do tempo que me ultrapassa.
E então o que outrora o que eu sentia como um mundo pequeno demais para me satisfazer transforma-se num universo extenso demais para eu absorver no curto espaço de tempo que biologicamente me é dado (que circunstancialmente eu espero que seja assegurado) e tendo em conta as condições disponíveis (imposições sociais, limitações financeiras, escolhas pessoais, características de género, restrições morais, entre outras).

Bem, e aí começo a sentir que nunca conseguirei viver totalmente o universo por todas as perspectivas ou mesmo por uma só perspectiva em todas as vertentes de forma absoluta. Isto porque eu sou só uma.

Uma.

Uma mísera e delimitada uma.


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Se fizeres, faz em grande

Para conseguirmos realizar um objectivo, ele tem que ser suficientemente Grande para inspirar toda a nossa mobilização em prol da sua concretização.

Por isso acaba por ser mais "fácil" atingir um objectivo que consideremos grande, do que um mediano - pois este último está muito está muito mais sujeito à desistência mediante a mínima adversidade, para além de conseguir mobilizar apenas uma pequena percentagem dos nossos esforços.

E é precisamente esta capacidade de concentração de esforços e de utilização de todo o potencial humano (latente em todos nós, mas utilizado apenas por alguns) que distingue os bons dos extraordinários.

Por isso, fazer algo que consideras grande é meio caminho andado para o sucesso.


pensamento de praia, de Agosto 2011.