quinta-feira, 19 de abril de 2012

A inércia da vida e a gravidade do que amas

(Física aplicada ao comportamento humano)


I. A inércia da vida

1. A lei da inércia, descoberta por Newton, é a tendência de qualquer objecto para continuar a mover-se em linha recta, a menos que qualquer coisa o influencie e o faça sair da sua trajectória.
Aqui está: uma da lei da física, absolutamente objectiva e vazia de densidade de significado, que consegue descrever, sem qualquer pretenciosidade acusativa, o problema de raíz de grande parte dos seres humanos. Aqui está: o meu (e agora o teu) "a-ha! moment" do dia.
1.1. Se continuas a mover-te sempre linha recta na trajectória da vida, estás a ser dominado pela inércia. Se continuas a fazer sempre a mesma coisa, dia após dia - mesmo sabendo que serias mais tu fazendo algo diferente -, se estás preso a um hábito que te restringe, a uma pessoa que não te reflecte, a um sentir que não te respira por todos os poros do teu ser, e se, mesmo assim, continuas a seguir essa mesma trajectória redutora achando, na tua diabólica ignorância, que estás a ser um herói-mártir por te manteres submisso à linha recta que te aprisiona, fica desde já a saber que até um poio de pássaro lançado aleatoriamente no espaço faria o mesmo - porque continuar a mover-se em linha recta é a tendência natural de qualquer objecto ignorante.
1.2. Por isso, se queres ser um humano inteligente, tens que conseguir virar à esquerda ou à direita nos cruzamentos que se te apresentam.

2. Outra coisa importante: se a inércia é continuar a mover-se em linha recta, decidir parar - e parar mesmo - contém em si mais acção e determinação do que continuares a mover-te pela inércia de não conseguires parar. Então, se precisas de parar: pára. Pára sempre que o movimento da tua trajectória não for construtivo, positivo, prazeiroso e bom. Sim, é verdade, decidires parar - e parares mesmo - exige mais esforço e coragem do que continuares a mover-te em linha recta (é necessário ímpeto, que, na física, é a resistência que o corpo opõe ao movimento - ou ausência dele). Mas pára: parar pode ser mais produtivo do que desperdiçares a tua energia em algo que não te é.
2.1. Na natureza, nenhuma energia se desprediça - reina a lei do menor esforço: os ursos hibernam no tempo frio, os leões preguiçam no sol da savana, as aranhas ficam estáticas na teia até ao momento cirúrgico em que uma presa se lhes oferece. E nem tudo o que é bom exige muito esforço: toda a acção que for feita com a força do amor, será executada com o menor esforço - esta é a lei que rege os embondeiros que crescem pedantes até aos 25 metros em Madagáscar, a andorinha-do-mar-ártica que placidamente percorre 35 mil quilómetros para migrar do Ártico para a Europa, e as pessoas que fazem coisas que gostam ou fazem as coisas com gosto.


3. Mas, eureka! : dentro da própria lei da inércia, está contida a solução para combate à inércia: ..."qualquer objecto continua a mover-se em linha recta,a menos que qualquer coisa o influencie ou faça sair da sua trajectória". Isto significa que deverás tirar partido das "quaisquer coisas" intrusivas que insistem em atrair-te para si, mesmo que a princípio se te possam afigurar como incomodativas ou estranhas, pois obrigam-te a um reposicionamento interno (e, espero, externo) perante a vida - elas serão o ponto de alavancagem para a mudança necessária na tua trajectória. 

II. A gravidade do que amas


1. E qual é a força que irá atrair essas coisas a ti? Eu não sei. Mas a física diz que é a gravidade que faz com que os objectos de atraiam - e é ela a força capaz de combater a inércia dos objectos; senão vejamos: Newton diz que a Lua mover-se-ia em linha recta, tangencial à órbita, (por inércia) a menos que uma outra força (a gravidade) a desviasse constantemente do seu caminho para um círculo, empurrando-a em direcção à Terra. Essa força - a gravidade - age à distância: não há nada a unir fisicamente a Terra e a Lua e, no entanto, a Terra e a Lua atraem-se continuamente (a gravidade da Terra combate a inércia da Lua e vice-versa).

1.1. Aquilo que, na física, é a força da gravidade, responsável pela atracção mútua dos objectos celestes e terrestres, é, entre nós, a força do amor, responsável pela atracção de pessoas e situações até ti. Essa força do amor é a única força capaz de combater, naturalmente e com o menor esforço, a tua inércia em continuares a mover-te em linha recta na tua vida.
1.2. Por isso, se queres ter uma vida viva, tens que seguir aquilo que amas: deixa que a gravidade daquilo que amas te atraia - e pára de mover-te em linha recta por inércia.

2. Um detalhe importante: segundo Newton, a força da gravidade diminui na razão inversa ao quadrado da distância: ou seja, se dois objectos forem afastados para duas vezes mais longe, a gravidade que os atrairá terá apenas um quarto da força que tinha quando estavam próximos.
2.1. Assim como a força da gravidade, também a força do amor diminui e desvanece com a distância: o que começa por ser saudade de alguém ou frustração por não fazer algo, logo a tua inteligência emocional reajusta para um distanciamento emocional, de modo a evitar-te o sofrimento (pois - não era o Freud que dizia? - é da natureza humana a fuga à dor e a busca do prazer). Então, quanto mais te aproximares daquilo que amas, maior será a força do amor que te une àquilo que amas.
2.2. Agora que sabes isto, não deixes que aquilo que amas se afaste e perca a sua força - não combatas a gravidade do que amas a favor da inércia.


Resumindo: deixa que a gravidade do que amas te atraia; aumenta a força que te une ao que amas, aproximando-te do que amas; pára de mover-te em linha recta por inércia; vira à esquerda ou à direita no cruzamento que tens agora (porque todos temos) na tua vida - para o lado para onde te atrair a gravidade.


Agora pensa: o que é que gostas? de quem é que gostas? onde é que gostas de estar? o que é que gostas de fazer? como é que gostas de ser? o que é que te toca?

Segue-o.




18.03.2012


Disclaimer: as leis da física aqui descritas são utilizadas como uma mera muleta para melhor compreensão das condutas comportamentais aqui defendidas, através de analogias com as quais me identifico, e com o objectivo de defender metaforicamente a universalidade de princípios; não pretendo de forma alguma aqui explicar exaustivamente estas leis, nem sequer ser objectivamente rigorosa na sua utilização e transposição para o comportamento humano.



2 comentários:

  1. Não discordando em nada do que dizes, infelizmente quase todos nós vivemos presos por estereótipos preestabelecidos, ou obrigações de força maior, que nos prendem, oprimem a seguir os nossos verdadeiros prazeres ou instintos que tenhamos. No entanto não invalida que a seu devido tempo e como os pés bem assentes, devamos fazer pelas coisas que realmente importam! Caso contrário não teremos o prazer de viver na sua plenitude, mas sim apenas sobreviver…

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  2. Sim, é verdade. Mas é importante que não nos esqueçamos que temos o poder de desamarrar tudo o que nos prende ao que não queremos, se assim o quisermos. As prisões são sempre, sobretudo, mentais. A partir do momento em que percebes isto e reposicionas a tua atitude, podes descobrir um "admirável mundo novo", mesmo que não saias do sítio onde estás.

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