sábado, 11 de fevereiro de 2012

A omnisciência da ciência

"Omnisciência: a capacidade de saber tudo infinitamente (ad infinitum), incluindo pensamentos, sentimentos, vida, passado, presente, futuro, e todo universo. Na maioria das religiões monoteístas esta habilidade extraordinária é tipicamente atribuída a um único Deus supremo, onde o conceito da omnisciência se mantêm tradicionalmente como uma verdade absoluta."

A ciência não é omnisciente. Se és pela ciência, és pelo desconhecido: a ciência só estuda aquilo que desconhece . É esse o objectivo de se construir ciência: conhecer o que se desconhece; traduzir em leis humanamente inteligíveis aquilo que é aparentemente ininteligível.
Se dizes que és uma pessoa científica e racional e que, por isso, não acreditas em nada que não tenha sido cientificamente comprovado até ao momento, estás a ser comprovadamente obtuso. Pois até a Ciência, que tanto deificas, acredita naquilo que não foi cientificamente comprovado até ao momento - caso contrário, seria encerrada: diríamos: "Já sabemos tudo o que há para saber, meus senhores; despeçam-se os cientistas, encerrem-se os laboratórios, sejam transformados em museus os centros de investigação".

Ressalvo: se preferes, por opção pessoal, acreditar só naquilo que está cientificamente comprovado - que é o mesmo que dizer que só acreditas na ciência do passado, pois a ciência do presente, e que será a do futuro, encontra-se em fase de estruturação nos minutos que correm - podes fazê-lo, sim. Mas quero só irritar-te um pouco, sussurando-te rispidamente ao ouvido que essa "posição intelectual" (atitude que chamo usando da minha sensata condescendência, porque a minha vontade é chamar-lhe de "crença ideológica") é tão parcial e velada de verdade (tão tapadinha e estúpida, para ser mais clara) como qualquer outra crença religiosa ou ideológica (essas coisas estranhas que tu detestas) que coloque a defesa dos seus princípios à frente das razões para a defesa dos seus princípios. Se defendes a ominisciência da ciência, defendes a ditadura daquilo que se sabe - e nunca chegarás a saber mais: serás cegado pela luz que te deveria iluminar.

A ciência é pelo mistério. E digo-te mais: cientificamente, tudo é passível de existir, até que seja passível de se provar que não existe; tudo pode ser verdadeiro, até que se consiga provar o seu contrário. Por exemplo: sabemos que o céu é azul, e temos a certeza que o céu é azul, porque temos a capacidade de cientificamente comprovar que ele é azul e não é vermelho, nem verde, nem nenhuma outra cor. Mas, por exemplo: não sabemos se a telepatia existe, porque não temos meio de provar que ela existe; mas também não sabemos se a telepatia não existe, porque não temos meio de provar, por nenhuma fórmula, que ela não existe - então, apesar da ciência (ainda) não ter descoberto a telepatia, não podemos dizer: "ah, a telepatia não existe, porque não existem provas; é um mero fruto da imaginação e da necessidade do homem acreditar em algo." Acontece apenas que a ciência (o homem) ainda não conseguiu comprovar ou descomprovar a existência da telepatia.

Espero que até aqui já tenhas percebido a lógica da batata: não tem nada que saber.

O meu conselho (apesar de não mo teres pedido, eu sei) é: aceita que és pequeno e abraça o desconhecido com humildade - pois só assim descobrirás, com a ciência ou a consciência, como és grande.


27.03.2012

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