terça-feira, 13 de março de 2012

Felicidade: o responsável és tu

transcrito de um antigo diário escrito em 26.12.2002.

Às vezes sinto que estou no meio do deserto, sem nada a que me agarrar. Vejo a água à minha frente, mas acho que ocuparia melhor lugar entre as nuvens invisíveis do que dentro de mim: sinto-me a evaporar, como se me desintegrasse de tudo o que me rodeia (ou o quisesse fazer) - daí a pouquinho pairaria lá em cima, olhando para baixo: a realidade esfumada, onde eu não queria estar. E, no entanto, sabia que bastava um pequeno gesto para que o sol não parecesse abrasador e infernal, mas resplandecente de vida universal.
A vontade da nossa mente tudo pode controlar: e era essa força que nesse momento me faltava - nem eu achava ímpeto para a recuperar. Parecia que não valia a pena e afundava-me cada vez mais nas areias quentes daquele mar de nada (ou era isso que me fazia sentir o vazio que encontrava em mim).

É assim que se compreende o poder da felicidade. Sem ela perdemos o controlo sobre a vida. Com ela sentimos que podemos conquistar o mundo.
É o sentimento mais poderoso e valioso que podemos experimentar, mesmo quando é conscientemente imperceptível. A sua ausência faz-nos sentir como se toda a beleza do próprio ser ser esvaísse, o entuasismo se evaporasse com a água do deserto, a alegria se tornasse um espectro esquecido, o prazer pela arte e ciência fosse virgindade desconhecida e todo o encanto que o mundo sugere se transformasse de repente numa fórmula desconexa e incompreensível de apreender.
É a força que orienta o nosso rumo quando o vento nos quer derrubar e é a chama que aquece e ilumina o coração e o faz sorrir mesmo perante adversidades. Sem ela, qualquer obstáculo que se apresente - que com ela seria visto como um desafio aliciante - é encarado com uma sensação de auto-comiseração - o que é, no mínimo, intimamente humilhante, não é? É.

É tão bom acordar com um sorriso nos lábios, mesmo antes de saber se lá fora hoje está sol. E se estiver, tanto melhor; se não, não culpemos a falta de sol pela nossa infelicidade.
Cabe a cada qual ocupar-se de manter o seu sol aceso, bem luminoso, dentro da alma quente de cada um - com aquela luz branca que nem o deus sol consegue imitar.
Então, não responsabilizemos os outros ou as circunstâncias que nos rodeiam pela nossa falta de coragem para beber as gotas de água que nos trariam conforto se quisessemos ver a felicidade que nos espera, generosa, do outro lado do oásis da nossa escolha.



3 comentários:

  1. a felicidade está naquilo que escolhemos, seja pessoas ou direcções a caminhar : )

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  2. ...mas saibamos também aceitar a infelicidade como algo natural e passageiro. (:

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  3. sim, Pedro, a infelicidade também faz parte do ciclo de estados interiores. aliás, é precisamente quando passamos do estado de infelicidade para o de felicidade que nos conseguimos aperceber de como esta nos faz sentir poderosos e "on top of the world" :).

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