domingo, 1 de janeiro de 2012

A inalienável leveza do ser


transcrito de antigo diário, escrito em 07.12.2002



O ser a sua leveza são qualidades inseparáveis para uma salubridade que, por ser imperceptível, brota do âmago da origem.
É ser quase não sentindo o peso da nossa presença;
é moldarmo-nos aos contornos da circunstância da natureza; é fazer do fluxo sanguíneo pessoal uma ligação à elementar flexibilidade das veias do mundo.
É agir não segundo padrões pré-convencionados;
é julgar não a partir de juízos formulados anteriormente à situação presente; é não querer Ser dentro de uma linha de orientação auto-imposta que se baseia tão somente em limites restritivos a tudo aquilo que poderíamos de facto Ser.
Ser simplesmente o que somos; não o que achamos que somos; ou o que os outros acham que somos. Estas duas últimas concepções afectam redondamente o ser, na medida em que estabelecem uma sanidade pautada e previsível - o que é estritamente útil dada a complexidade da malha social e a necessidade de uma construção da realidade em que o indivíduo se revê em face do papel que ocupa na massa - mas amorfam quaisquer outras possibilidades não exploradas, que estenderiam os horizontes pessoais das perspectivas exteriores de cada um.

O que eu quero dizer é que só quando nos apercebemos que estamos a ser é que estamos a ser autenticamente. E só quando as teias não ofuscam os nossos olhos é que podemos ter uma visão virgem de tudo o que é selvagem e puro.
Isto é a inalienável leveza do ser.
Só assim poderemos ver um dia (pode ser ao amanhecer enquanto o melro pia; ou num dia de frio ao sair de casa; ou quando olhamos para o céu e vemos as estrelas) - num dia qualquer - que o mundo é redondo, suave e grande - maior do que a nossa vista (mesmo sem teias) pode conter. Mas não tão grande como aquilo que podemos Ser.




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