segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O infinito abortado

Quero ser tempo: tempo para ser tua. Não quero ser sujeito, nem verbo, nem adjectivo teu; quero ser aquela substância omnipresente – e sempre latente – que te absorve; ser sempre presente. Posso ser?
Estou farta (farta é eufemismo), lucidamente intoxicada de ausência – ausência de presença.
Dá-me, dá-me já, ou abstém-te para sempre. És um pseudo-tudo: equação perfeita sem resolução final, potencial sem potência, objectivo sem objecto; prezas-me, mas menosprezas-me e desesperas-me, pela tua dormência letárgica plasticamente saudável – essa amorfia que abomino –, pela tua intensidade guilhotinada, pela voz surda, olhar mudo: és um infinito abortado.
Fui tempo. Agora sou saudade.

foto: buraco negro na Via Láctea


Texto escrito em Dezembro de 2011, como resultado de um exercício de sintaxe que me foi dado pelo escritor Pedro Chagas Freitas e que consiste em transformar o seguinte esquema de números de palavras e pontuação num texto:

3: 4. 4, 2, 3; 5 – 3 – 3; 3. 2?
2 (3), 4 – 3.
1, 2, 4. 3: 5, 3, 3; 1, 4, 6 – 4 –, 5, 3, 2: 4.
2. 3.

Experimentem!

      

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