O que fazemos é apenas uma projecção do que somos; é o eu aplicado num uso prático; é o ser com um verbo atrelado.
O que fazemos é - está certo - uma parte da nossa reflexão no espelho da vida. O que fazemos é (aceito) um fruto da grande árvore do nosso ser, pelo que o sabor do fruto poderá deixar adivinhar a índole e o pulsar das raízes do âmago do nosso ser.
Mas o que fazemos é, por vezes - socialmente, atrevo-me a dizer que é: sempre -, hipervalorizado e equiparado ao que somos. Ou não fosse a resposta à típica pergunta "o que é que queres ser quando fores grande?" invariavelmente uma profissão - um "fazer": que, na verdade, constitui apenas uma ínfima parte do nosso amplo ser (cuja maior dimensão está submersa como um gigante iceberg do qual só é visível a ponta à superfície do oceano).
Dizer que ser se reduz a fazer é tomar a parte pelo todo e casmurramente acreditar numa mentira socialmente fabricada para nos amestrar - fazendo crer que nascemos só para uma função (pelo que do insucesso resulta a depressão).
Ora, a verdade bruta é esta: o que fazes é apenas (e no máximo) um meio para o que és - já és tudo antes de fazer, pelo que não precisas de fazer nada para já seres. O Ser existe antes, depois e para além da versão prática de ti mesmo.
Agora que sabes isto (e sentes paz e confiança): anda lá, mexe-te e faz. Não autorizo que o conhecimento desta verdade legitime a tua preguiça.
Curiosidade: nesta capa dos Sigur Rós está escrito: "cold water senses the spirit of free play"
15.01.2012
11:18
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