terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Razão de viver

transcrito de antigo diário, escrito em 22.01.2002


Tenho pena das pessoas que acham que existe o destino. Elas pensam isso para compensarem o facto de não saberem o que estão cá a fazer e o facto de não quererem admitir que sabem o quão são insignificantes neste universo infinito de matéria gigantesca.
"E o homem, em seu orgulho, criou Deus, à sua imagem e semelhança" - disse Friedrich Nietzsche. Com esta referência não quero dizer que Deus não existe. Aliás, na concepção que eu tenho, ele existe. Mas acho que todos os escritores, filósofos e etc. que se referiam ao absoluto que desconhecem como algo inatingível e que diziam que isto cá na Terra é só um reflexo do absoluto...sei lá, acho que devem ter sido infelizes e deixam-me cá uma nostalgia, um vazio, uma pena...É que eles passaram a vida inteira a tentar encontrar a raiz existencial.

E - eu vos-vos dizer - o que acontece é que não há uma razão para nós existirmos. Nós não somos assim tão indispensáveis ao universo só pelo simples facto de existirmos. Pelo contrário: somos consumidores da matéria que poderia alimentar outros seres em vez de nós. É triste, mas é assim. E se soubermos aproveitar a situação, até nem é assim tão triste.
Não tem que haver uma razão para existir, a não ser aquela que nós próprios criamos: exactamente. Cada um (condicionado pelo meio, genes, decorrências) é que vai desenvolver na sua inteligência a razão de viver.
E não vale a pena ter crises existenciais e sofrer por isso. Para quê? Nunca - nem aqui na Terra, nem aqui na Terra - iremos saber mais do que aquilo que o nosso organismo o permite (com todos os seus sentidos e os 100% de cérebro - não apenas os 10% que são os que hoje se conhecem serem responsáveis pelo pensamento acessível pelo raciocínio).
O que acontece é que somos demasiado inteligentes para termos consciência do que não sabemos; e demasiado burros para não conseguirmos saber aquilo de que temos consciência não saber.

 

Somos uma mísera partícula no país: na Terra: no Sistema Solar: no Braço de Orion da nossa galáxia: na Via Láctea: no Exame do Grupo Local de galáxias: no Superexame local - que é apenas um dos milhões de Superexames de galáxias.

Mas o que conta é o que fazemos na medida em que nos é acessível. Porque é um milagre sagrado e mágico este da vida e é uma honra fazer parte de uma obra tão grandiosa, bonita e infinita como esta. No meio de tantos pedregulhos, pós e gás, o nosso pedregulho caseiro é mesmo um fenómeno exemplar de desenvolvimento da vida.




-Quantas hipóteses tenho de a conquistar, Mary?
-Muito poucas.
-Quantas? Assim, digamos: uma em 100?
-Bem, eu diria: uma num milhão.
-Ah! Então diz-me que há uma hipótese? Yeah!
(do Dumb and Dumber:
http://www.youtube.com/watch?v=qULSszbA-Ek)



Sem comentários:

Enviar um comentário